segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Crónica: Como quando eu era pequenino!


Na última edição elogiei, o que mantenho, as belíssimas praias do Algarve. No entanto, tenho por hábito escapar-me delas no mês mais agitado – Agosto.


Não é que as praias fiquem piores. Ficam é muito mais acotoveladas, os restaurantes apinhados, as filas agigantam-se.
Podendo, continuo a preferir Julho para banhos.
Em Agosto, o segredo da tranquilidade está no interior, sem praia. Há hotéis acolhedores, praticamente vazios, onde verdadeiramente se conseguem passar uns dias de descanso e lazer.
Desta vez, rumei primeiro à Lousã. Cidade pequena, com um centro arranjadinho, recebeu-me com mais de 30º. Cheguei ao fim da tarde, mas ainda a tempo de um mergulho na piscina do Palácio da Lousã, transformado em Hotel. Tinhamos a piscina só para nós. A família.
Cercada de jardins simples, mas envolventes, só o anoitecer me fez subir ao quarto.
Depois do que era suposto ser uma leve ceia, mas que acabou por envolver moelas, enchidos e queijo da serra, tornou-se obrigatório dar um passeio para auxiliar a digestão.
As ruas são calmas, limpas, normais. Mas hospitaleiras. Sem qualquer perigo, deambula-se por entre ruelas e escadas, deixando o bafo quente da noite acariciar-nos o rosto. As crianças, aqui, podem sentir-se verdadeiramente livres. E os adultos, contagiados, tornam-se também eles crianças.
Brincar às escondidas no jardim defronte à câmara municipal, com os meus filhos, fez-me lembrar as minhas noites e infância. Sem preocupações com assaltos, carros ou outros tolhimentos ao à-vontade, aproveitavam-se as férias para esticar a hora de deitar. Empurrá-la para a frente.
E que bem faz à alma estas pequenas e simples diversões.
Despindo por uns dias os hábitos da cidade, o apelo desta serra, com as suas inimitáveis aldeias de xisto torna-se obrigatório. Mais ainda se, como eu, for para experimentar o cabrito da Ti Lena e a deslumbrante vista que de lá se pode apreciar.
É neste contexto que mais faz sentido reler e recordar Jacinto e Zé Fernandes, extraordinários protagonistas escolhidos por Eça de Queiroz na sua “ A Cidade e as Serras”. O conforto da urbe civilizada versus a simplicidade da serra. Foi o que fiz!
Daí cortei o país para norte. Com tanta autoestrada, nem custa. A não ser à carteira, claro.
Fui desaguar à Aldeia de Marialva, onde a suite de S. Pedro me acolheu. Neste turismo de aldeia, mais uma vez, a serra. Abraçado pela sua vastidão e rude beleza, acabei estas linhas por debaixo de uma amendoeira, olhandos as pedras, amontoadas, que lá fazem casas e muros.
Com as oliveiras, fazem a paisagem – da serra.
dc@legalwest.eu

sábado, 7 de setembro de 2013

CRÓNICA – Angola, Portugal e o Etnocentrismo



Considero Angola e Portugal países irmãos. Sem mais!
Unidos por séculos de história comum, ainda que diversa em inúmeros aspectos, este povo Afro Europeu foi-se assimilando reciprocamente, miscigenando pessoas, hábitos, prazeres e anseios.
Avaliando maneiras de estar, preferências alimentares, comportamentos sociais e, acima de tudo, rapidez de integração, confesso a minha dificuldade em encontrar substitutos para a simbiose.
Por muitas desavenças, atritos e forças que empurrem nesse sentido, com que outro povo Portugal se identifica mais? Com suecos ou alemães? Não creio!
E os angolanos, sentem-se mais “em casa” no Botswana ou Marrocos do que em Portugal? Parece indesmentível que não!
Aqui chegados, é com profunda tristeza que assisto à recente e evitável troca de recados, criticas e maledicências entre (alguns) Angolanos e Portugueses.
É como se houvesse qualquer força superior que, para desgraça recíproca, nos empurrasse para este constante estragar do que está bem.
Muitas vezes me interrogo a razão de ser desta desnecessária autoflagelação à qual insistimos em nos submeter. Apetece-me, talvez para justificar e racionalizar o fenómeno, encontrar um bode expiatório.
Creio, contudo, que a culpa é do etnocentrismo com que continuamos a olhar uns para os outros.
Em 1906, o termo etnocentrismo foi utilizado pela primeira vez por William Graham Sumner.  
Trocado por miúdos, e com o significado que aqui lhe quero imprimir, etnocentrismo é o entendimento segundo o qual julgamos que todas as sociedades e culturas se baseiam nos valores, costumes e normas da nossa própria sociedade.
Apurando um pouco o conceito, poderíamos inclusive dizer que uma visão etnocêntrica entre povos, leva-nos a encarar os comportamentos próprios como superiores aos dos restantes.
Ora, muito embora Angola e Portugal tenham muito em comum, não têm tudo. Nem seria desejável que assim fosse.
Para fortalecer esta umbilical relação, é preciso perceber, e acima de tudo, respeitar tantas saudáveis diferenças que nos caracterizam.
No respeito dessa diversidade, encontraremos melhores resultados e vantagens que a ambos trarão benefícios.
Devemos aos nossos filhos, muitos luso-angolanos, tudo fazer para não desperdiçar todas as condições de construir um amanhã mais risonho.
Acima de tudo, devemos aos nossos “mais-velhos”, Angolanos e Portugueses, o respeito pelas muitas boas memórias que não conseguem, nem querem, arrancar do coração.  
dc@legalwest.eu