sexta-feira, 22 de outubro de 2010

CRÓNICA - DE VOLTA A ANGOLA

Muito embora tenha sempre mantido contactos, pessoais e profissionais, há uns anos que não visitava pessoalmente Angola.
Também por isso, e pela soma de relatos que me iam sendo feitos, confesso que era alguma (bastante) a minha expectativa.
Chegado a Luanda, encontrei, de facto, uma cidade diferente. Digo isto, nem tanto, pelos prédios novos, pelo aeroporto remodelado, ou pelos serviços de registo civil absolutamente modernizados que encontrei. Falo da cidade em si, das suas populações, do que se sente na rua.
A cidade cresceu, metropolizou-se!
Já não é uma pequena capital, onde ao fim de dois dias se sabia tudo o que se passava. É agora uma grande cidade, mais impessoal, com mais de tudo. Especialmente trânsito!
O frenesim é agora constante. Começa cedo e acaba tarde. Há muita construção nova – alguma a parecer aguardar melhores dias da economia – novos bares e restaurantes. Todos, por regra, caríssimos para padrões Portugueses (ou mesmo europeus).
Muito embora o combustível tenha aumentado quase para o dobro, a verdade é que com o gasóleo a 40 cêntimos de dólar e a gasolina a 60, parece encontrada a justificação para os mais que muitos grandes todo-o-terreno V6 e V8, com 3, 4 e 5 mil de cilindrada.
Relativamente aos salários de alguns anos atrás, houve também uma clara subida. Para haver uma ideia, não é invulgar encontrar uma empregada doméstica a ganhar 400 ou 500 Dólares, ou um motorista chegar aos 700.
A vida encareceu, os salários tiveram de subir.
Em relativo contraste com esta agitada realidade de Luanda, foi com enorme prazer que fiz, de carro, os cerca de 600 kilometros que a separam de Benguela.
Antes de mais, a viagem é lindíssima, sempre com o Oceano à vista. A estrada é boa, o trajecto faz-se sem sobressaltos. Fez-me lembrar as viagens Porto-Algarve, pela estrada nacional, há alguns anos atrás.
Em Benguela e Lobito (vizinhas e rivais), encontramos uma realidade bem mais calma. As ruas mais vazias e o trânsito (muito) menos intenso. Em concreto na restinga do Lobito, o cenário convida a ficar. Para sempre!
Mas Angola, com o seu petróleo, diamantes e demais riquezas, também está a sentir a crise. Nota-se no ritmo das empresas, nas conversas dos quadros, na velocidade das obras que cruzamos nas ruas. E isso, afastou muitos “investidores”. Arrisco dizer que ainda bem.
Angola, com altos e baixos, está a trilhar um percurso de progresso que, a meu ver, dificilmente será sustido.
Para isso precisa de empresários com visão de longo prazo, daqueles que não desistem com a primeira constipação da economia.
Creio que chegou a altura dos industriais, aqueles que investem para ficar, olharem com olhos de ver para o país.
Visitei a unidade fabril de um cliente meu. Por acaso em Luanda.
Vi as máquinas, o pessoal, os armazéns, tudo a funcionar em pleno, sem restrições. Já não é preciso que me convençam que é possível. Eu já vi por mim mesmo.
Curiosamente, encontrei dois empresários de Felgueiras. Ousados, olham para este mercado como uma oportunidade de, com benefícios próprios, participarem na reconstrução económica do país.
Um deles vi-o de carrinha carregada, vindo dali e indo para além, quase como que uma realidade de Felgueiras há 20 anos.
Posso estar enganado, mas apostaria convosco que, continue ele a esforçar-se, sem preconceitos, e não hão-de passar muitos anos até que aquela carrinha se transforme numa grande empresa.
Daqui a umas semanas, quando regressar, lá estarei para ver.


quarta-feira, 13 de outubro de 2010

CRÓNICA - EU E A VODAFONE

Quem tem o meu número de telemóvel sabe que sou cliente da mesma operadora telefónica há uns bons anos. Assim por alto diria que uns 10, ou quase.

Não obstante, abomino o serviço desta empresa. As minhas experiências têm sido más, quase traumáticas, e do estilo de chegar ao fim e concluir: Eles fazem de conta que não percebem, mas é de propósito. Vencem pelo cansaço e desgastam até à desistência.
Como a ideia generalizada é a de que os outros não são (muito) melhores, as pessoas acabam por ir-se deixando ficar.
Antes de mais, os chamados agentes ou representantes são mais que muitos. Sucedem-se uns aos outros, cada um desautorizando o anterior, deixando o cliente baralhado. Eu fico, confesso.
Depois, são de uma grande simpatia e atenção naqueles períodos anteriores à renovação do contrato. Telefonam, aguardam, disponibilizam-se para reuniões, sorriem e apresentam soluções. Tudo, até aquele fugaz instante em que o cliente assina. Após, por um qualquer milagre da natureza, evaporam-se. Os telefonemas desaparecem, a disponibilidade para reuniões é mínima e os problemas, que sempre existem, não há maneira de se resolverem.
Temos por outro lado o centro de atendimento telefónico da empresa. Um mimo!
Deve ser de mim, mas 90 % das vezes que usei esse número – a não ser para questões de simplicidade evidente – fui atendido com voz de frete, por pessoas que raramente conhecem as soluções para os problemas, vomitando um discurso pré-estudado, sempre, mas sempre, entrecortado com a desgraçada expressão: Pode aguardar em linha?
E lá ficamos nós à espera, embalados na música, aguardando que do outro lado o nosso interlocutor vá perguntar ao chefe aquilo que, supostamente, já deveria saber.
E não vale a pena irritarmo-nos com ele. Só nos dá cabo da pressão arterial.
Pode até dizer-se que os meninos e as meninas que nos atendem não têm culpa. Entraram há um mês e vão sair passados dois, ganham mal, não receberam a formação devida. Até pode ser, mas o que é que eu tenho a ver com isso? Não pago as contas todos os meses? A empresa é que tem de resolver o problema.
Mas não resolve, o desgraçado desespera, e o contrato de permanência renova-se. Ao estilo do pior exemplo de alguns serviços públicos, ninguém tem culpa, nem ninguém pode fazer nada. A situação fica para estudo e a culpa, é do sistema.
Feito o desabafo, retiro uma ilação, entre várias possíveis.
Compreendendo que com o crescimento das organizações e necessidades, com a alteração das realidades empresariais, já se torna mais difícil pessoalizar o atendimento. No entanto, a dimensão não é desculpa para um mau serviço. O serviço sempre foi, e continua a ser, uma valia enorme, talvez a única consistente, no sucesso empresarial.
Como exemplo, refiro – porque é de justiça – os armazéns El Corte Inglês em Portugal. Fazem gala da variedade e, principalmente, do serviço, com resultados evidentes. Com ou sem crise, vendem que se fartam.
Como parecem querer mais do que clientes para uma vez, acabam por ter clientes para muitas.