sexta-feira, 19 de novembro de 2010

CRÓNICA SEM COMPLEXOS OU PATERNALISMOS

Expulsar ciganos de um país, apenas por serem ciganos, está errado! A mesma premissa vale para todos os outros povos, confissões, etnias ou grupos, mais ou menos singulares.
É sinal de ignorância, provincianismo bacoco, ou pura e simplesmente, desonestidade e aproveitamento político. E isso não é correcto nem aceitável.
Coisa (bem) diferente é punir e expulsar criminosos. Esses não são expulsos pelo grupo a que pertencem, mas pelo que fazem, pelo desmerecimento demonstrado quanto à hospitalidade que lhes foi oferecida.
Se eu for convidado para a sala da casa de um amigo, e invés de retribuir a amabilidade com cortesia, me dedicar a partir-lhe a mobília ou a tratar mal os seus filhos, ninguém se surpreenderá que o dono da casa me convide a sair. Não pelo que sou, mas pelo que faço. E nisso, creio, todos concordaremos.
Os exemplos recentes, nomeadamente o francês, são uma mistura de vários factores e, creio que expurgada a propaganda política e o romanceamento mediático, nele encontraremos, em diferentes proporções, justiça, hipocrisia e prostituição eleitoral.
Mas levanta questões importantes, e civilizacionalmente estruturantes que merecem ser discutidas.
Por um lado subiram-se paredes porque na França estavam a ser expulsos estrangeiros para os seus países. A França vem alegar que apenas expulsou estrangeiros que não tinham uma permanência legal no país.
A ser assim, certo ou errado, nada de estranho há – não comentando o modus operandi, que à mulher de César não basta ser séria, também tem de o parecer.
Portugal prevê na sua lei o repatriamento de estrangeiros em inúmeras situações e repatria-os de facto com regularidade. Seja porque não têm uma permanência legal no país, seja porque são expulsos por ordem judicial em processo-crime.
Se a ilegalidade fosse inconsequente, não havia razões para cumprir a lei.
Devo no entanto deixar a ressalva: Tenho o maior respeito pela coragem daqueles que em situações dramáticas fogem da miséria, arriscando tudo para procurar longe vidas melhores. Mas mesmo a estes, a lei precisa de se aplicar.
Já sem ressalvas, aqueles que, visitando um país que os acolhe, aí se dedicam a praticar crimes, ficarão, justamente, sob a sujeição de, apurada a sua responsabilidade, poder-lhes ser aplicada a pena de expulsão.
Para que conste, a pena de expulsão aos que praticam crimes só ocorre nos casos em que, analisadas as circunstâncias específicas, um juiz opta – porque é uma opção – pela utilização extrema desse mecanismo legal.
Há que tratar estas realidades sem preconceitos ou xenofobias, mas também sem complexos ou paternalismos.
Tenho conhecido ao longo da minha vida várias pessoas ciganas. Com uns simpatizei, com outros nem por isso.
Em relação a alguns, indignei-me com o preconceito de que eram alvo. Pessoas com os mesmos defeitos e virtudes de todos os outros, debatiam-se com o constante rótulo de malandros e ladrões, ainda que nada mais fizessem que trabalhar, no duro, para sustentar as suas famílias.
Em relação a outros, indignei-me, mas com eles. Peritos em vitimização, olhavam para o mundo como se todos lhes devessem algo, apenas pelo grupo a que pertenciam. Aproveitadores, usavam o preconceito em seu favor, seja para pugnarem por uma impunidade que aos restantes não é concedida, seja para pedirem o que não merecem, seja para tomarem o que não é seu.
Acredito que é difícil ser cigano. Uns mais outros menos, mas muitos os olham com algum desdém.
E Portugal que durante seis séculos espalhou milhões de cidadãos pelo mundo, muitos recebidos com rejeição e antipatia, não deve ter memória curta.
No entanto, é preciso que estes problemas sejam lidados com realismo e sem complexos. Se cedermos ao populismo, então sim todos ficam a perder.
Perdemos se abrirmos excepções injustificadas a determinadas minorias, com medo do que possa parecer.
Perdemos tanto ou mais se nos deixarmos arrastar para o facilitismo e pobreza de espírito, separando por cores ou categorias, o que devia ser separado por actos e comportamentos. Aí perdemos enquanto civilização.

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