Na última edição elogiei, o que mantenho, as belíssimas praias do Algarve.
No entanto, tenho por hábito escapar-me delas no mês mais agitado – Agosto.
Não é que as praias fiquem piores. Ficam é muito mais acotoveladas, os restaurantes
apinhados, as filas agigantam-se.
Podendo, continuo a preferir Julho para banhos.
Em Agosto, o segredo da tranquilidade está no interior, sem praia. Há
hotéis acolhedores, praticamente vazios, onde verdadeiramente se conseguem
passar uns dias de descanso e lazer.
Desta vez, rumei primeiro à Lousã. Cidade pequena, com um centro
arranjadinho, recebeu-me com mais de 30º. Cheguei ao fim da tarde, mas ainda a
tempo de um mergulho na piscina do Palácio da Lousã, transformado em Hotel.
Tinhamos a piscina só para nós. A família.
Cercada de jardins simples, mas envolventes, só o anoitecer me fez subir ao
quarto.
Depois do que era suposto ser uma leve ceia, mas que acabou por envolver
moelas, enchidos e queijo da serra, tornou-se obrigatório dar um passeio para
auxiliar a digestão.
As ruas são calmas, limpas, normais. Mas hospitaleiras. Sem qualquer
perigo, deambula-se por entre ruelas e escadas, deixando o bafo quente da noite
acariciar-nos o rosto. As crianças, aqui, podem sentir-se verdadeiramente
livres. E os adultos, contagiados, tornam-se também eles crianças.
Brincar às escondidas no jardim defronte à câmara municipal, com os meus
filhos, fez-me lembrar as minhas noites e infância. Sem preocupações com
assaltos, carros ou outros tolhimentos ao à-vontade, aproveitavam-se as férias
para esticar a hora de deitar. Empurrá-la para a frente.
E que bem faz à alma estas pequenas e simples diversões.
Despindo por uns dias os hábitos da cidade, o apelo desta serra, com as
suas inimitáveis aldeias de xisto torna-se obrigatório. Mais ainda se, como eu,
for para experimentar o cabrito da Ti
Lena e a deslumbrante vista que de lá se pode apreciar.
É neste contexto que mais faz sentido reler e recordar Jacinto e Zé
Fernandes, extraordinários protagonistas escolhidos por Eça de Queiroz na sua “
A Cidade e as Serras”. O conforto da urbe civilizada versus a simplicidade da
serra. Foi o que fiz!
Daí cortei o país para norte. Com tanta autoestrada, nem custa. A não ser à
carteira, claro.
Fui desaguar à Aldeia de Marialva, onde a suite de S. Pedro me acolheu.
Neste turismo de aldeia, mais uma vez, a serra. Abraçado pela sua vastidão e
rude beleza, acabei estas linhas por debaixo de uma amendoeira, olhandos as
pedras, amontoadas, que lá fazem casas e muros.
Com as oliveiras, fazem a paisagem – da serra.
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