Encontrei, há dias, um jornalista da Lusofonia, natural de S. Tomé mas em Portugal há muitos anos, com quem trabalhei no passado.
Cruzamo-nos à porta da Fundação Gulbenkian em Lisboa, onde ele estava a cobrir uma conferência sobre a importância económica da Língua Portuguesa. Trocamos impressões, breves, e cada um seguiu à sua vida. No entanto, é um tema sobre o qual importa reflectir seriamente.
Apreciando os países Lusófonos, consideremos o Brasil. Quase 200 milhões de habitantes, produtor de praticamente tudo, é hoje um importante actor no panorama político-económico internacional. Assumidamente a economia mais relevante da América do Sul, tem sido carinhosamente alcunhada como a “nova potência simpática”, fruto da associação entre o potencial e a forma de estar tão característica do seu povo.
Mas factos são factos. O Brasil está na liga principal da equipa planetária! Desde 2009 que integrou o G20 – habitualmente considerado como o governo informal do mundo – inverteu a sua posição junto do FMI de devedor para credor, sendo uma voz respeitada em qualquer fórum que integre.
Nos últimos anos, com Lula da Silva nas rédeas, a visibilidade do Brasil exponenciou-se. Este novo guru dos países pobres, carismático, elogiado por todos, incluindo Obama, não entrou no poder com este estatuto.
Aquando da sua tomada de posse como presidente, em 2002, muitas e importantes foram as vozes que, internamente, manifestaram o seu receio pelas políticas que seriam adoptadas por Lula, temendo-se uma debandada da classe empresarial e do investimento externo.
Mas assim não foi. Lula, politico na oposição desde sempre, deixou as radicalizações que lhe eram atribuídas na gaveta, e ganhou a confiança dos mercados.
Aliás, vozes entendidas afirmam que a inovação de Lula se prende mais com o estilo, do que propriamente com alterações profundas à politica do seu antecessor, Fernando Henrique Cardoso.
Mas, sendo correcto contextualizar, não é justo desvalorizar o papel de Lula da Silva no actual desempenho do país.
Este homem que se adivinhava de “esquerda intensa” adoptou uma postura de governação mais centrista, mas ainda assim, de esquerda.
Muitas vezes desafiando paradigmas e verdades económicas aparentemente imutáveis, combateu dogmas e motivou uma maior distribuição de riqueza entre as classes altas e as mais desfavorecidas.
E a verdade é que os frutos estão à vista!
Não hostilizar os mercados e ganhar a confiança internacional, mantendo muito do que vinha do passado, não foi um acto de fraqueza, mas sim de inteligência.
Claro que ajudaram as enormes reservas de petróleo entretanto descobertas no país. De igual modo, a explosão do consumo na China, a partir de 2003, foi um tónico importante para as exportações Brasileiras, nomeadamente na agricultura e minério de ferro.
Mas, mesmo para ter sorte, é preciso “pôr-se a jeito”. A realidade que me é transmitida de lá é que este crescimento não é uma bolha prestes a implodir. O enorme fluxo de dólares existente no mercado, tem financiado o crescimento do sector imobiliário, num país onde o deficit habitacional continua a ser significativo. O desemprego é dos mais baixos que se conhecem, havendo, diversamente, escassez de mão-de-obra, em especial, qualificada
Nesta potencia onde os seus 8,5 milhões de Km2 lhe conferem o estatuto de país com a 5.ª maior extensão territorial do mundo, a língua mãe é a mesma que a nossa, o Português.
O valor dessa comunhão é inquestionável, e Portugal, especialmente no momento que atravessa, não deve nem pode, desprezar um valioso património ao qual tão pouca importância tem sido dada. A língua!
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