terça-feira, 25 de janeiro de 2011

CRÓNICA – UM NATAL GENEROSO, NO SAPATO

Com altos e baixos, alegrias e sobressaltos, assim se passou mais um ano atribulado. Daqui a uns dias o Natal e, logo de seguida, a entrada em 2011!
Tem sido minha opinião, em diversas conversas e contextos, que os doze meses que se avizinham não serão particularmente simpáticos. Gostava de pensar diferente, mas o que vejo e oiço, não me deixa alternativa.
No entanto, foi com alguma surpresa, mas enorme satisfação, que me apercebi recentemente do actual entusiasmo da indústria do calçado em Felgueiras.
Inicialmente, quando o primeiro empresário me disse que estava sobrecarregado de encomendas, nacionais e estrangeiras, admiti ser apenas caso de excepção a uma indústria que, há bem pouco tempo, lambia as feridas e lutava com sérias dificuldades.
A verdade é que os relatos se repetiram, se generalizaram, e não me restam dúvidas. A indústria do calçado em Felgueiras atravessa, de facto, um período áureo, com encomendas abundantes. Há quem me diga que a actual fase faz lembrar outros, e bons, tempos.
A pergunta que se impõe é, será este fenómeno um “balão de ar” que rapidamente se esgota, ou, pelo contrário, uma realidade duradoura?
A opinião é de que está para durar!
Segundo a melhor das explicações que obtive, falando no terreno com os profissionais do calçado, este afluxo de encomendas deve-se à actual conciliação de vários e simultâneos factores:
Por um lado, o crédito. Como é sabido, a China abastece uma parte significativa do que se consome na Europa – e no mundo.
No entanto, comprar na China implica quantidades e, à cabeça, dinheiro vivo ou garantias financeiras de pagamento. Acontece que, com as dificuldades de obtenção de crédito junto da banca, muitos empresários trocaram as compras na China por compras nacionais. Isso, por si só, traduz-se em muitos milhares de pares de sapatos.
Por outro lado, a China já não é apenas um mercado exportador. Com o extraordinário aumento do seu poder de compra, uma parte significativa da produção fica no mercado interno Chinês. E como o tamanho afinal sempre conta, esses milhões de novos consumidores internos, significam milhões de pares que não saem para o mercado europeu.
Por último, o desaparecimento deste segmento da indústria do calçado, em Itália e Espanha. Por razões diversas, a dificuldade em obter mão-de-obra para estas fábricas é enorme. Nesses países, foi de tal forma crítica, que levou à quase extinção do sector. Em Portugal, essa dificuldade sente-se, mas ainda não atingiu o mesmo peso que nos concorrentes referidos.
A explicação convenceu-me. Não será a única, mas faz sentido.
A realidade é que, por estas e/ou outras razões, o calçado atravessa um período simpático, numa altura em que a desgraça parece um hino.
No entanto, há que saber aproveitar estes momentos de oportunidade. Para preparar o futuro e corrigir o presente.
Uma das queixas constantes que oiço, é a de que não há pessoal para as fábricas. Ao que me é dito, as empresas sofrem uma surreal concorrência do “subsídio de desemprego”, que afasta da vida activa muitos profissionais que bem falta fazem à indústria.
Com os conhecidos números de desemprego no país e as sérias dificuldades financeiras que atravessamos, esta situação espúria merece ser corrigida. E depressa! Ganha o Estado, ganham as empresas, ganha a sociedade!
Também, este é um período de excelência para lançar bases de futuro. O calçado Português tem potencialidades, mas como qualquer outro sector, tem de ser pensado, aprender com o passado, criar e seguir uma estratégia. Viver demasiado vulnerável às marés, é um risco que deve ser diminuído o mais possível.

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