Assisti ontem, na televisão, a um extenso e interessante programa sobre Nelson Mandela.
Exemplo de persistência, ousou sair da sua aldeia, para em Joanesburgo procurar vida melhor. Ambicionou, e conseguiu, ser advogado num momento onde não havia escritórios de negros.
Madiba, como lhe chamam, aspirou um país livre, onde cada pessoa contasse com um voto, e contra ventos e marés, perseverou e viu o sonho realizado.
Todos estes factos são impressionantes, merecedores de reflexão, estudo e, a final, de admiração.
Mas, talvez, a decisão que mais contribuiu para o lugar único e invejável que a história lhe reservou, foi o de ser magnânimo, e saber perdoar!
Perceber que, quer ele quer os outros, perderiam mais se não conseguissem pôr o futuro duma nação acima da revolta contra os que, no poder, de tanto os privaram. Jogar o mesmo jogo, retribuir na mesma moeda, poderia, no imediato, apaziguar a alma, mas, a longo prazo, era muito mais o que se destruía do que o que se ganhava.
Quando assumiu a presidência da África do Sul, depois de décadas de cativeiro, não procurou vingança, não procurar ajustar contas com os seus agressores, apenas procurou integrar todos e reconciliar um país.
Será este gesto sublime o que mais marcado na memória colectiva ficará.
O exemplo de Nelson Mandela é, creio, extremamente actual.
A bacia do Mediterrâneo está em mudança. Regimes eternos, com dinheiro e armas, apoios internacionais, caiem à força da “singela” vontade popular.
Depois do rastilho da Tunísia – onde ao que parece, a mulher do ex- presidente terá levado mais de uma tonelada de ouro antes de partir para o exílio, este sim, dourado – toda a região se tem vindo a incendiar.
Exemplo significativo foi a queda de Mubarak no Egipto, pela imensa importância geoestratégica do país. Também, pelas piores razões, a ainda não concluída, mas inevitável, substituição de Kadafi na Líbia. Quantos mortos mais serão necessários para perceber o inevitável?
A todos, sucessores e sucedidos, será útil ter presente o exemplo de Mandela. Nenhuns, seja de que maneira for, poderão ficar a ganhar se priorizarem desígnios de vingança e retaliação.
Claro está que, na maioria destes casos, este grito de revolta das populações é mais que justificado. A subjugação que os vitimou durante décadas, deixará marcas difíceis de apagar.
Há no mundo exemplos abundantes de que as mudanças viradas para o passado acabam por condenar, os que as fazem, a reviver esse passado.
Ter memória é importante, responsabilizar os culpados, também. Não são, no entanto, mais importantes que construir um futuro melhor. Aliás, é exactamente esse o fundamento destas mudanças.
Olhar e usar o exemplo de Mandela é, no momento actual, uma enorme virtude. Seja o mundo capaz de aproveitar as suas referências.
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