A este propósito, achei interessante o artigo escrito no Financial Times por Gideon Rachman. Nele, elabora-se uma teoria sobre a fragilidade do euro. Para esse exercício sugere que se esqueçam as razões macroeconómicas e, simplesmente, se olhe para as notas. Sim, para o papel.
Repararemos que as imagens impressas nas notas de euro são de edifícios imaginários. Tipicamente não é isso que acontece. Aparecem pessoas e lugares reais. Por exemplo as notas de dólar têm a imagem de George Washington, e os rublos russos o teatro Bolshoi.
Segundo o articulista, desta curiosa característica se pode extrapolar para a compreensão da frágil identidade comum da Europa.
De facto, a Europa, na qual Portugal se inclui, participativa e orgulhosamente, não é um espaço uno e homogéneo. Culturalmente, as diferenças são abismais, seja nos simples hábitos de vida, nas mentalidades ou na culinária. Mas isso não impede uma existência Europeia comum. Implica apenas maior esforço de compreensão e tolerância.
De todas, as diferenças linguísticas são, queiramos ou não, as mais constrangedoras de uma maior integração dos povos.
Vejam-se todos os outros grandes blocos federais – Brasil ou Estados Unidos. Não obstante grandes diferenças culturais, a língua única permite uma aproximação que de outra forma dificilmente se alcançaria.
E desta realidade a Lusofonia pode retirar grandes lições!
Os povos lusófonos têm muito de comum, muito a aproximá-los. Não fosse assim e há muito que as distâncias, os preconceitos e os interesses já teriam conseguido rasgar os laços que estoicamente resistem.
Como Luso-Angolano digo convictamente que há muito maior identidade e proximidade entre um Português e um Angolano, do que entre um Português e um Sueco, Belga ou Finlandês. E dificilmente alguém me desmentirá, mesmo aqueles Portugueses que nunca visitaram Angola, ou Angolanos que nunca visitaram Portugal.
Essa proximidade e intercontinentalidade da Lusofonia precisa de maior e melhor aproveitamento.
Portugal não deve renunciar ao continente Europeu, os PALOP ao continente Africano, o Brasil ao Americano ou Timor ao Asiático.
Bem pelo contrário. Essa dispersão geográfica, é uma valência cujas múltiplas características identitárias comuns permitem que não se desagregue.
E se, num conto de agradável ficção, fosse criada uma moeda única Lusófona, não seria preciso inventar edifícios ou pessoas imaginárias.
A todos estes povos não causaria estranheza usar notas com a imagem de Camões, a Baía de Luanda, ou o Cristo-Rei carioca.
Essa é uma das vantagens desta histórica identidade.
dc@legalwest.eu
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