quinta-feira, 22 de setembro de 2011

CRÓNICA - GUINÉ-BISSAU, PARTE I

Cheguei à Guiné-Bissau durante a noite.
Como é habitual, África recebeu-me com calor, mesmo às 2 da manhã.

Bissau é, comparando com as restantes capitais lusófonas, uma pequena cidade. O centro conhece-se, numa caminhada. A cidade, ao contrário da imagem que grassa fora do país, é segura, afável e passear a pé não comporta qualquer aventureirismo. Ir, por exemplo, ao supermercado, é fácil e os preços são normais.
Está, no entanto, a crescer ao longo do percurso entre o centro e o aeroporto, uma zona industrial que começa a dar ares de vida e onde empresas chinesas têm feito alguma construção.
Mas Bissau é uma cidade a precisar, urgente e notoriamente, de investimento. As construções coloniais, quase únicas no centro, estão decadentes, semi-abandonadas, descaracterizando a cidade.
Numa economia que vive, especialmente, de receitas de emigrantes, apoios externos e produção de castanha caju, os comércios e pequenas indústrias são rudimentares, muito havendo para fazer.
O salário mínimo, de cerca de 30 euros, é bom exemplo da necessidade de melhorar a economia da Guiné.
Reparei também que, de todos os Palop que conheço, a Guiné é a menos Lusófona das capitais. O que é pena!
Importante para os visitantes é saber que os cartões de crédito de pouco servem no país. Nem o melhor hotel da cidade aceita “pagamento plástico” e as caixas ATM existentes apenas servem para cartões bancários locais. Deve pois o visitante trazer na bagagem dinheiro vivo, muito embora com o cartão de crédito seja possível levantar dinheiro no balcão de alguns bancos.
A verdade é que, passado o impacto inicial, Bissau conquista-nos. Apelando a alguma imaginação sobre o que seria possível fazer, deixamos o sol afagar-nos o rosto, e a simpatia local confortar-nos os corações.
Mas Bissau precisa de investimento e confiança. Nomeadamente externos. Como muito está por fazer, e como é um mercado que não é especialmente procurado pelos empresários estrangeiros, deixa espaço a que o empreendedorismo dos mais ousados possa ser recompensado.
E para um país rodeado de francofonia, onde a presença dos líderes sub-regionais – Senegal e Costa de Marfim – é evidente, os Estados Lusófonos devem estar particularmente empenhados. É verdade que se fala de uma presença Angolana de relevo, que os produtos de consumo básico são, maioritariamente, Portugueses. No entanto, é manifesta a insuficiência do esforço lusófono. Todos, mas especialmente Angola, Brasil e Portugal deveriam apostar mais fortemente nas potencialidades da Guiné-Bissau. Com isso, para além das recompensas directas e imediatas, fortaleciam um espaço e identidade comuns, e com isso fortaleciam-se a si próprios, enquanto conjunto.
Da próxima falo-vos da segunda parte desta viagem, a ida ao arquipélago dos Bijagós, de onde apetece não sair!

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