quinta-feira, 22 de setembro de 2011

CRÓNICA: A cidadania e as mentalidades

Felgueiras atravessa um período excepcionalmente bom na sua economia. A indústria do calçado dá sinais de crescimento e tem sido usada pelo poder político nacional como exemplo do que de bom se faz em Portugal.

Mas não é, infelizmente, o que se passa no resto do país.
Nesta altura de grande crise na economia – e temo estarmos apenas no início – oiço todos os dias as mais diversas justificações.
Nas ruas, nos jornais, nos cafés, todos se sentem injustiçados, roubados até, por tudo e por todos, numa vitimização que não resolvendo os problemas, tenta justificá-los. Mas ninguém perde tempo a pensar no que faz e na sua quota-parte de responsabilidade no estado das coisas.
Defendo que a actuação de muitos dos responsáveis políticos e económicos dos últimos anos é, quase, criminosa. A publicitação desmedida do crédito, feita pela banca e apoiada pelos governos, sem cuidar de avaliar as efectivas condições dos que se empenham, contribuiu decisivamente para muitas das desgraças que hoje se choram.
Mas e aqueles que, nas suas vidas, tomaram as decisões erradas? Não lhes caberá avaliar os seus erros, tão-somente para os não voltar a cometer?
Nesta minha “geração dos disparates”, qualquer casal de miúdos de 25 ou 30 anos, em começo de vida e com rendimentos longe de serem seguros ou significativos, compra de imediato casa e carro, mesmo sem ter dinheiro, sequer, para pagar o custo dos impostos e escritura. Como o banco emprestava …..
Depois, entramos em suas casas e vemos uma televisão de última geração em cada divisão, computadores portáteis de top, internet banda larga e 50 canais de televisão. Como estar sempre em contacto se tornou uma obrigação, cada um tem, pelo menos, um ou dois telemóveis, que vão mudando ao ritmo de quem muda de camisa. Não basta ter um telefone. É preciso ter sempre o último modelo.
Ocorre que estas despesas, todas juntas, sufocam as famílias.
E sufocam-nas porque significam gastos superiores aos que, ajuizadamente, se podiam fazer.
A factura dos erros, de todos eles, já foi apresentada e vai ser cobrada dos próximos anos. É altura para perceber os que foram cometidos, para que no futuro possam ser evitados. A culpa dos governos, dos bancos, das grandes empresas (que existe) não afasta a responsabilidade individual de quem presumiu, erradamente, que não é preciso ganhar para gastar.
Essa continua, e continuará a ser a regra. Não se pode gastar o que não se ganha.
Mais cedo ou mais tarde, quem empresta, vem cobrar.

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