quinta-feira, 22 de setembro de 2011

CRÓNICA – Milão: Feira de marcas

Iniciei esta crónica em Milão, na charmosa Piazza del Duomo.
Muito embora já conhecesse, continuo a surpreender-me com a saudável agitação desta zona da cidade, onde as montras satisfazem a vontade de uns e alimentam o sonho de muitos mais.
É incontestável que as peças expostas em lojas como Armani, Versace ou Prada apaixonam quem para elas olha, mas também lhes desgraçam o orçamento. Seguramente, não é para quem quer, apenas para quem pode. Mas como ver montras ainda é grátis, pelo menos aí, os clientes são muitos.
Mas adiante, não são as montras da Via Montenapoleone o principal motivo deste texto. Desloquei-me a Milão para visitar a feira de calçado MICAM, a qual, segundo dizem clientes meus, é das mais importantes e significativas para as empresas Portuguesas. Também na advocacia, conhecer bem a actividade dos clientes é uma valia que precisa de ser cultivada.
Dispersos por 10 pavilhões, centenas de fabricantes, criadores e distribuidores mostraram o que de melhor se faz na indústria do calçado.
No que às empresas Portuguesas diz respeito, nenhum motivo há para não se orgulharem. Ombreiam de igual para igual com os mais sofisticados produtores mundiais e ninguém, conscientemente, poderá envergonhar-se da presença Lusa na exposição. Nem no design, nem na qualidade dos produtos, nem na ousadia dos “stands”.
Claro que há segmentos nos quais Portugal não tem presença marcante, mas onde está e no que faz, hoje em dia, faz (maioritariamente) bem.
Este cosmopolitismo e dinâmica das empresas Portuguesas, muitas de Felgueiras, explica (em parte) o sucesso do sector do calçado, agora tantas vezes evidenciado pelos responsáveis políticos como grande bandeira de excepção à crise e desemprego que varrem os restantes sectores económicos do país.
Mas um sector actualmente tão usado pelas lideranças políticas para contrariar a tendência de “desgraça” do país, mereceria um maior e melhor acompanhamento dessas mesmas lideranças.
Em Milão, não assisti à presença de qualquer representante do poder político. Muitas vezes não é o que em concreto se vai fazer, mas sim o simbolismo da visita, o alento que ela traz e a mediatização que provoca.
Também ao nível municipal, o acompanhamento dos responsáveis políticos, muitas das vezes in loco, seria uma oportunidade dourada para perceber – na prática – as valências e dificuldades da indústria, permitindo adoptar práticas e políticas mais moldadas às reais necessidades das empresas.
É verdade que a informação hoje abunda e circula por meios diversos, mas a importância da presença, do cara-a-cara, está longe de ser arredada. Isso, é bom não esquecer!
Importante, tendo em conta a minha conhecida insistência na importância da criação e manutenção das marcas, é verificar que a presença portuguesa no certame já não é uma presença de empresas, mas de marcas. Todos os expositores que vi, sem excepção, criaram e promovem os produtos com marca própria, sem embargo de não o fazerem exclusivamente.
Todos os stands estão decorados com a marca da empresa, e muitos deles nem tão pouco fazem referência à empresa em si.
O próprio índice do catálogo editado pela APICCAPS para identificar a presença nacional na feira, está por marcas, não por empresas.
Esta evolução de mentalidade e política empresarial é do maior relevo. Há que saber proteger este novo património, não cedendo (cegamente) a ganhos imediatistas e conjunturais.
Para esse objectivo comum devem confluir vontades empresariais e institucionais, privadas e públicas. Em equipa, a força será maior.


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