segunda-feira, 26 de setembro de 2011

PROTOCOLO PORTUGAL ANGOLA - VISTOS

O Governo da República Portuguesa e o Governo da República de Angola, assinaram em 15 de Setembro de 2011 um Protocolo Bilateral que visa a facilitação na obtenção de vistos entre os dois países.
Consulte aqui o PROTOCOLO.

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

CRÓNICA – Milão: Feira de marcas

Iniciei esta crónica em Milão, na charmosa Piazza del Duomo.
Muito embora já conhecesse, continuo a surpreender-me com a saudável agitação desta zona da cidade, onde as montras satisfazem a vontade de uns e alimentam o sonho de muitos mais.
É incontestável que as peças expostas em lojas como Armani, Versace ou Prada apaixonam quem para elas olha, mas também lhes desgraçam o orçamento. Seguramente, não é para quem quer, apenas para quem pode. Mas como ver montras ainda é grátis, pelo menos aí, os clientes são muitos.
Mas adiante, não são as montras da Via Montenapoleone o principal motivo deste texto. Desloquei-me a Milão para visitar a feira de calçado MICAM, a qual, segundo dizem clientes meus, é das mais importantes e significativas para as empresas Portuguesas. Também na advocacia, conhecer bem a actividade dos clientes é uma valia que precisa de ser cultivada.
Dispersos por 10 pavilhões, centenas de fabricantes, criadores e distribuidores mostraram o que de melhor se faz na indústria do calçado.
No que às empresas Portuguesas diz respeito, nenhum motivo há para não se orgulharem. Ombreiam de igual para igual com os mais sofisticados produtores mundiais e ninguém, conscientemente, poderá envergonhar-se da presença Lusa na exposição. Nem no design, nem na qualidade dos produtos, nem na ousadia dos “stands”.
Claro que há segmentos nos quais Portugal não tem presença marcante, mas onde está e no que faz, hoje em dia, faz (maioritariamente) bem.
Este cosmopolitismo e dinâmica das empresas Portuguesas, muitas de Felgueiras, explica (em parte) o sucesso do sector do calçado, agora tantas vezes evidenciado pelos responsáveis políticos como grande bandeira de excepção à crise e desemprego que varrem os restantes sectores económicos do país.
Mas um sector actualmente tão usado pelas lideranças políticas para contrariar a tendência de “desgraça” do país, mereceria um maior e melhor acompanhamento dessas mesmas lideranças.
Em Milão, não assisti à presença de qualquer representante do poder político. Muitas vezes não é o que em concreto se vai fazer, mas sim o simbolismo da visita, o alento que ela traz e a mediatização que provoca.
Também ao nível municipal, o acompanhamento dos responsáveis políticos, muitas das vezes in loco, seria uma oportunidade dourada para perceber – na prática – as valências e dificuldades da indústria, permitindo adoptar práticas e políticas mais moldadas às reais necessidades das empresas.
É verdade que a informação hoje abunda e circula por meios diversos, mas a importância da presença, do cara-a-cara, está longe de ser arredada. Isso, é bom não esquecer!
Importante, tendo em conta a minha conhecida insistência na importância da criação e manutenção das marcas, é verificar que a presença portuguesa no certame já não é uma presença de empresas, mas de marcas. Todos os expositores que vi, sem excepção, criaram e promovem os produtos com marca própria, sem embargo de não o fazerem exclusivamente.
Todos os stands estão decorados com a marca da empresa, e muitos deles nem tão pouco fazem referência à empresa em si.
O próprio índice do catálogo editado pela APICCAPS para identificar a presença nacional na feira, está por marcas, não por empresas.
Esta evolução de mentalidade e política empresarial é do maior relevo. Há que saber proteger este novo património, não cedendo (cegamente) a ganhos imediatistas e conjunturais.
Para esse objectivo comum devem confluir vontades empresariais e institucionais, privadas e públicas. Em equipa, a força será maior.


CRÓNICA - GUINÉ-BISSAU, PARTE I

Cheguei à Guiné-Bissau durante a noite.
Como é habitual, África recebeu-me com calor, mesmo às 2 da manhã.

Bissau é, comparando com as restantes capitais lusófonas, uma pequena cidade. O centro conhece-se, numa caminhada. A cidade, ao contrário da imagem que grassa fora do país, é segura, afável e passear a pé não comporta qualquer aventureirismo. Ir, por exemplo, ao supermercado, é fácil e os preços são normais.
Está, no entanto, a crescer ao longo do percurso entre o centro e o aeroporto, uma zona industrial que começa a dar ares de vida e onde empresas chinesas têm feito alguma construção.
Mas Bissau é uma cidade a precisar, urgente e notoriamente, de investimento. As construções coloniais, quase únicas no centro, estão decadentes, semi-abandonadas, descaracterizando a cidade.
Numa economia que vive, especialmente, de receitas de emigrantes, apoios externos e produção de castanha caju, os comércios e pequenas indústrias são rudimentares, muito havendo para fazer.
O salário mínimo, de cerca de 30 euros, é bom exemplo da necessidade de melhorar a economia da Guiné.
Reparei também que, de todos os Palop que conheço, a Guiné é a menos Lusófona das capitais. O que é pena!
Importante para os visitantes é saber que os cartões de crédito de pouco servem no país. Nem o melhor hotel da cidade aceita “pagamento plástico” e as caixas ATM existentes apenas servem para cartões bancários locais. Deve pois o visitante trazer na bagagem dinheiro vivo, muito embora com o cartão de crédito seja possível levantar dinheiro no balcão de alguns bancos.
A verdade é que, passado o impacto inicial, Bissau conquista-nos. Apelando a alguma imaginação sobre o que seria possível fazer, deixamos o sol afagar-nos o rosto, e a simpatia local confortar-nos os corações.
Mas Bissau precisa de investimento e confiança. Nomeadamente externos. Como muito está por fazer, e como é um mercado que não é especialmente procurado pelos empresários estrangeiros, deixa espaço a que o empreendedorismo dos mais ousados possa ser recompensado.
E para um país rodeado de francofonia, onde a presença dos líderes sub-regionais – Senegal e Costa de Marfim – é evidente, os Estados Lusófonos devem estar particularmente empenhados. É verdade que se fala de uma presença Angolana de relevo, que os produtos de consumo básico são, maioritariamente, Portugueses. No entanto, é manifesta a insuficiência do esforço lusófono. Todos, mas especialmente Angola, Brasil e Portugal deveriam apostar mais fortemente nas potencialidades da Guiné-Bissau. Com isso, para além das recompensas directas e imediatas, fortaleciam um espaço e identidade comuns, e com isso fortaleciam-se a si próprios, enquanto conjunto.
Da próxima falo-vos da segunda parte desta viagem, a ida ao arquipélago dos Bijagós, de onde apetece não sair!

CRÓNICA – EUROPA PROCURA ANGOLA COMO PARCEIRO INVESTIDOR

Angola é cada vez mais um importante e respeitado investidor internacional. Potenciando os recursos provenientes do petróleo, tem assumido de forma explícita uma postura de investidor estratégico, com um forte pendor Lusófono.

Na realidade verifica-se que nenhum dos espaços CPLP deixou de ser visitado pelos dólares angolanos. De todos os exemplos, Portugal é o que mais relevo e mediatismo tem assumido!
Parcialmente por assombração de antigos e anacrónicos fantasmas, mas também pela dimensão e sectores para os quais a tomada de posições se tem direccionado. A compra do BPN foi o último episódio desta novela, cujos capítulos ainda se desenrolam.
Seja como for, Portugal apresenta hoje inúmeras oportunidades em saldo. Paradigma é a banca. Peguemos em dois grupos financeiros, ambos também presentes em Angola. Em 2007, quando se projectou uma fusão entre BCP e BPI, os valores por acção avançados rondavam os €3,5 para o BCP e os €6,5 para o BPI. Hoje, o BCP transacciona-se a menos de 10% desse valor (€0,25) e o BPI não chega aos 15% (€0,80).
Das duas, três: ou os valores estavam exagerados na altura, ou muita desgraça aconteceu neste entretanto, ou os valores/acção de hoje estão muitíssimo abaixo do valor real de cada um dos bancos, e por isso uma boa opção de compra.
Talvez a resposta correcta seja mesmo: Um pouco de cada uma das 3 razões!
Não obstante as explicações, existem muitos (bons) projectos em Portugal disponíveis e à procura do financiamento angolano. Por exemplo, o sector imobiliário apresenta reduções significativas e de abundante escolha.
No meu escritório de Lisboa recebo com frequência contactos e dossiers sobre oportunidades de investimento que me pedem que leve para o escritório de Angola, fazendo-os chegar ao tecido empresarial do país.
Apenas alguns conseguem merecer acolhimento, tamanha é a possibilidade de escolha. E, identificada a oportunidade, não é difícil avançar com o projecto de investimento.
Para esta fácil entrada de aplicações de capital estrangeiro em Portugal, contribuem decisivamente as quase inexistentes barreiras burocráticas ao investimento externo. Criar uma empresa e pô-la em total funcionamento pode demorar menos de um mês, bastando uma assinatura do investidor. No que concerne a despesas com formalidades, estas são manifestamente razoáveis, em nada obstando a que, mesmo um pequeno investidor, possa constituir a sua empresa ou fazer o seu investimento imobiliário sem constrangimentos.
Em resumo, estar atento a oportunidades, especialmente em mercados com afinidades múltiplas, pode ser uma estratégia rentável, para além de segura, distribuindo “os ovos por vários cestos”.


CRÓNICA - ADEUS SIMPATIA

Está a chegar o pico do verão, e nota-se.

A verdade é que os quase 40 graus de temperatura lá fora fazem-me escorrer pelo corpo a vontade de mergulhar na papelada dos processos, ou sequer, de aqui escrever sobre assuntos jurídicos.
Hoje vou deter-me no processo de extinção de um dos mais precisos bens que, a meu ver, este país possuía – A simpatia e hospitalidade!
Li há pouco um texto escrito por um antigo colega de curso – que aliás escreve deliciosamente, mesmo quando discordamos do conteúdo – no qual este se debruçava sobre o que parece ser a incomodada recepção que, infelizmente, é apanágio de muitos habitantes das bonitas praias do Algarve nesta altura do ano.
Ao contrário de um caloroso e fidelizante acolhimento, em muitos casos – bem mais que os desejáveis – somos recebidos quase que por favor, de má cara e sem hospitalidade que se digne. Em abono da verdade diga-se que o Algarve não tem exclusivo, apenas se nota mais pela muita gente que recebe no verão.
Seja como for, mantém-se errado!
Já há muito que ando a bradar com esta má sina. Lisboa não é melhor. Dizia hoje uma interveniente de um programa de televisão que a culpa é nossa, dos maltratados. Se num restaurante somos mal servidos, reclamemos. O livro de reclamações obrigatório está lá para isso mesmo.
É verdade. Mas que diabo, não seria preferível evitar a destruição da simpatia e acolhimento naturais, tão característicos deste povo, ao invés de nos conformarmos com a sua perda, e em reacção, passarmos a reclamadores militantes?
Há uns dias entrei num restaurante desta cidade de Felgueiras, com pressa, porque tinha julgamento marcado logo no início da tarde.
Entrei com um cliente, mais uma pessoa e, não havia mesa para três disponível.
Uma funcionária, essa sim atenciosa e profissional, criativamente encontrou uma solução, que permitiria que almoçássemos, ainda assim cumprindo o horário.
Ora, para estranheza de todos, de imediato a proprietária do restaurante, com má cara, repreendeu a dita funcionária pelo arrojo de procurar ser simpática, em moldes que, não sendo escandalosos, foram facilmente presenciados pelos três famintos. Está bom de ver que o almoço nesse dia foi noutro local, muito embora fique registado, com elogio, a atitude da funcionária.
Certamente que ao restaurante não lhe fazem falta clientes – espero – mas não é essa a discussão. Quem escolhe, ou se conforma, com ter um estabelecimento aberto ao público, tem de perceber que os clientes, mesmo os chatos, são o motor que permite justificar abrir a porta todos os dias. Quem não está disposto a acolhê-los, melhor será procurar outra vida.
Muito se diz que Portugal está condenado a ser um país que recebe outros. Seja no turismo, seja nos serviços, o Português deve (re)introduzir no ADN a hospitalidade como característica indispensável para a sua sobrevivência.
Mas convenhamos, mesmo que ser simpático e acolhedor não fosse uma gritante necessidade, sempre seria uma feliz opção.

CRÓNICA: A cidadania e as mentalidades

Felgueiras atravessa um período excepcionalmente bom na sua economia. A indústria do calçado dá sinais de crescimento e tem sido usada pelo poder político nacional como exemplo do que de bom se faz em Portugal.

Mas não é, infelizmente, o que se passa no resto do país.
Nesta altura de grande crise na economia – e temo estarmos apenas no início – oiço todos os dias as mais diversas justificações.
Nas ruas, nos jornais, nos cafés, todos se sentem injustiçados, roubados até, por tudo e por todos, numa vitimização que não resolvendo os problemas, tenta justificá-los. Mas ninguém perde tempo a pensar no que faz e na sua quota-parte de responsabilidade no estado das coisas.
Defendo que a actuação de muitos dos responsáveis políticos e económicos dos últimos anos é, quase, criminosa. A publicitação desmedida do crédito, feita pela banca e apoiada pelos governos, sem cuidar de avaliar as efectivas condições dos que se empenham, contribuiu decisivamente para muitas das desgraças que hoje se choram.
Mas e aqueles que, nas suas vidas, tomaram as decisões erradas? Não lhes caberá avaliar os seus erros, tão-somente para os não voltar a cometer?
Nesta minha “geração dos disparates”, qualquer casal de miúdos de 25 ou 30 anos, em começo de vida e com rendimentos longe de serem seguros ou significativos, compra de imediato casa e carro, mesmo sem ter dinheiro, sequer, para pagar o custo dos impostos e escritura. Como o banco emprestava …..
Depois, entramos em suas casas e vemos uma televisão de última geração em cada divisão, computadores portáteis de top, internet banda larga e 50 canais de televisão. Como estar sempre em contacto se tornou uma obrigação, cada um tem, pelo menos, um ou dois telemóveis, que vão mudando ao ritmo de quem muda de camisa. Não basta ter um telefone. É preciso ter sempre o último modelo.
Ocorre que estas despesas, todas juntas, sufocam as famílias.
E sufocam-nas porque significam gastos superiores aos que, ajuizadamente, se podiam fazer.
A factura dos erros, de todos eles, já foi apresentada e vai ser cobrada dos próximos anos. É altura para perceber os que foram cometidos, para que no futuro possam ser evitados. A culpa dos governos, dos bancos, das grandes empresas (que existe) não afasta a responsabilidade individual de quem presumiu, erradamente, que não é preciso ganhar para gastar.
Essa continua, e continuará a ser a regra. Não se pode gastar o que não se ganha.
Mais cedo ou mais tarde, quem empresta, vem cobrar.