quinta-feira, 22 de setembro de 2011

CRÓNICA - ADEUS SIMPATIA

Está a chegar o pico do verão, e nota-se.

A verdade é que os quase 40 graus de temperatura lá fora fazem-me escorrer pelo corpo a vontade de mergulhar na papelada dos processos, ou sequer, de aqui escrever sobre assuntos jurídicos.
Hoje vou deter-me no processo de extinção de um dos mais precisos bens que, a meu ver, este país possuía – A simpatia e hospitalidade!
Li há pouco um texto escrito por um antigo colega de curso – que aliás escreve deliciosamente, mesmo quando discordamos do conteúdo – no qual este se debruçava sobre o que parece ser a incomodada recepção que, infelizmente, é apanágio de muitos habitantes das bonitas praias do Algarve nesta altura do ano.
Ao contrário de um caloroso e fidelizante acolhimento, em muitos casos – bem mais que os desejáveis – somos recebidos quase que por favor, de má cara e sem hospitalidade que se digne. Em abono da verdade diga-se que o Algarve não tem exclusivo, apenas se nota mais pela muita gente que recebe no verão.
Seja como for, mantém-se errado!
Já há muito que ando a bradar com esta má sina. Lisboa não é melhor. Dizia hoje uma interveniente de um programa de televisão que a culpa é nossa, dos maltratados. Se num restaurante somos mal servidos, reclamemos. O livro de reclamações obrigatório está lá para isso mesmo.
É verdade. Mas que diabo, não seria preferível evitar a destruição da simpatia e acolhimento naturais, tão característicos deste povo, ao invés de nos conformarmos com a sua perda, e em reacção, passarmos a reclamadores militantes?
Há uns dias entrei num restaurante desta cidade de Felgueiras, com pressa, porque tinha julgamento marcado logo no início da tarde.
Entrei com um cliente, mais uma pessoa e, não havia mesa para três disponível.
Uma funcionária, essa sim atenciosa e profissional, criativamente encontrou uma solução, que permitiria que almoçássemos, ainda assim cumprindo o horário.
Ora, para estranheza de todos, de imediato a proprietária do restaurante, com má cara, repreendeu a dita funcionária pelo arrojo de procurar ser simpática, em moldes que, não sendo escandalosos, foram facilmente presenciados pelos três famintos. Está bom de ver que o almoço nesse dia foi noutro local, muito embora fique registado, com elogio, a atitude da funcionária.
Certamente que ao restaurante não lhe fazem falta clientes – espero – mas não é essa a discussão. Quem escolhe, ou se conforma, com ter um estabelecimento aberto ao público, tem de perceber que os clientes, mesmo os chatos, são o motor que permite justificar abrir a porta todos os dias. Quem não está disposto a acolhê-los, melhor será procurar outra vida.
Muito se diz que Portugal está condenado a ser um país que recebe outros. Seja no turismo, seja nos serviços, o Português deve (re)introduzir no ADN a hospitalidade como característica indispensável para a sua sobrevivência.
Mas convenhamos, mesmo que ser simpático e acolhedor não fosse uma gritante necessidade, sempre seria uma feliz opção.

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