sexta-feira, 5 de setembro de 2008

CRIME AO VOLANTE

Saí ontem do escritório um pouco antes das oito. A avenida estava, como de costume, congestionada com o trânsito de fim de dia.
De repente ouvi o barulho de gritos. Mesmo em frente a mim, a uns escassos 20 metros, um condutor na casa dos 60 anos saiu disparado do seu carro para ir pedir satisfações ao veículo ao seu lado. Batendo-lhe violentamente no vidro, gritava efusivamente. Perante este cenário o outro motorista saiu do seu carro, gerando-se uma acesa discussão entre ambos, com alguns encontrões, mas que felizmente ficou por aí. Mais duas almas que aumentaram o stress do seu fim de dia, provavelmente por um qualquer lapso de condução que, se o bom senso prevalecesse, não justificaria sequer uma pequena advertência.
Pouco tempo passado, talvez uns 30 minutos, outra discussão rodoviária. Um motorista de táxi envolveu-se numa acesa discussão com a condutora de um outro veículo, ao que parece, porque os retrovisores de ambos se tocaram.
No meio da confusão já se ouviam expressões do tipo “se fosse com um homem isto resolvia-se de outra maneira”. Felizmente, passavam dois agentes da Policia que – e aqui fica o meu elogio – de forma serena mas determinada, puseram fim à contenda.
São dois exemplos, separados por escassos 30 minutos. Milhares de outros haveria para contar. Num momento em que todos levantam a voz para reclamar segurança – justificadamente – mau não seria que fizessem a comparação entre o número de mortos e feridos causados pelo chamado crime profissional e os causados pela atitude criminosa de milhares de condutores que circulam nas estradas no dia-a-dia.
Seria curiosa a comparação – houvesse denúncias dos episódios – entre os traumas psicológicos provocados pelos furtos que grassam pelo país e as inúmeras pequenas batalhas causadas pelos incidentes estradais quotidianos.
Á laia do que vem sendo divulgado, mudar-se-ia a lei para aplicar prisão preventiva imediata a todos os incidentes ocorridos ao volante.
Ultrapassada a ironia, pretendo somente alertar para uma factualidade que todos conhecem. A estrada, os carros, usados da maneira que são, são autênticas armas mortíferas, memo quando não batem. Aliás, as mais mortíferas de todas.
Há que haver cidadania para mudar isto voluntariamente, e se assim não for, resta fazê-lo de forma coerciva. Agora mudar, tem de mudar.
Os mortos são tantos que já nos são indiferentes os números.
dc@legalwest.eu

Sem comentários: